quinta-feira, 11 de abril de 2013

A Luz Que Nunca Irá Se Apagar



TWe're all numbers in the numbers game
Give me a long stem rose to cover up the pain
And if you don't win now you might win later on
So don't  boter giving in before you're actually gone


A fumaça do cigarro cortava o ar puro da fria noite de novembro e embebia-se na melancolia da moça. A outra, embriagada com a fragrância que exalava de seu casaco grande demais para seu pequeno corpo, estava sentada ao seu lado com um baseado entre os dedos e olhos melancólicos.
Deu uma longa tragada em seu cigarro, sem a obstante presença daquele cara. Fitou o rosto de Lenna, envolto pela que fazia acumularem-se lágrimas nos cantos de seus olhos, ao mesmo tempo que enevoava-os, dando-lhe um aspecto de pintura barroca, sombria e sedutora em sua religiosidade.
- Chegamos ao fundo. - Lenna retribuiu-lhe as palavras com um sorriso enviesado e balançou a cabeça negativamente, enquanto soltava seu cigarro no chão e puxava o casaco mais para cima, respirando fundo, sentindo o cheiro do garoto invadir seu nariz.
- Há muito tempo. - Riu-se com escárnio contra a lã verde-musgo do casaco pesado, enquanto apertava os olhos com força. Emma fitou-a pelo canto dos olhos, as olheiras profundas abaixo de seus olho, a pele extremamente pálida e o corpo magro em demasia. Emma sabia que por baixo das mangas daquele casaco haviam cortes irregulares espalhados pelos pulsos, alguns apenas uma linha fina de lembranças ressequidas, outros vermelhos e longos, que ainda ardiam ao sentir o sangue pulsar sobre eles.
O cheiro do moço que Lenna amava estava impregnado na lã que compunha o casaco verde, e ela só podia pensar em como o queria ali, agora. Queria desculpar-se por toda a dor que causou, queria abraçá-lo com força e enterrar o rosto em seu pescoço para sentir seu cheiro diretamente de sua pele.
Emma fitava a garota com tristeza em seus olhos, entendia pelo que ela passava e, de certa forma, passava pela mesma coisa. Lenna ergueu os olhos e abriu-os, encarando-a com um sorriso no rosto e piscando os olhos com lentidão. Aproximou-se mais da amiga e deitou a cabeça em seu ombro, abraçando-a em seguida, logo sendo apertada contra a outra. Sorriram, pois sabiam que mesmo quando tudo acabasse, ainda teriam uma à outra.
- Eu vou te ajudar a carregador a dor. - Lenna murmurou para a outra, sorrindo-lhe apenas com os olhos incisivos. - Não importa quanta dor seja. Eu vou estar aqui para te ajudar a carregá-la. Sempre.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Alguém como Gabriel



Eu vacilei, guardei tanto por tanto tempo que quando não aguentei mais soltei tudo de uma vez, não te dei tempo de respirar, não te dei tempo de aceitar o fato que você só me fazia infeliz a cada olhar falso que me dava. Eu tinha, reprimida, a esperança de te ter um dia, de que amanhã ou depois você olharia para mim e me veria de verdade, veria tudo que sou em um âmbito maior que nós mesmos, veria em mim tudo que sou e o que poderia ser pra você, veria em mim o que vejo em você, mas você só me olha até hoje e você nunca me viu de verdade. Aos poucos minha esperança vai diminuindo e mesmo você me maltratando, se desfazendo de mim, me deixando em pedaços... Em um desses pedaços fica impregnada a lembrança de seu sorriso, de seu beijo, de seu abraço e de tudo que você é, fica impossível respirar e não sentir o cheiro de quem você foi pra mim e bate aquela esperança, tão pequena quanto um grão de mostarda, mas que seria suficiente para alimentar minhas inseguranças e me segurar quando você me derrubasse.
Não importa o número de vezes que eu caio, meu coração é tão masoquista quanto meu corpo, os dois te desejam e eu vejo em você o que ninguém mais viu, o que ninguém mais vai ver e não é por que você nunca mais será amado por outra mulher, você será, mas nenhuma te amará como eu, nenhuma aceitará as injustiças desse seu gostar cheio de maus tratos e indiferenças. Outra já teria ido embora, teria te deixado a deriva dessa sua escolha medíocre de solidão que só aflora em seu peito e mente para você deixando que acredite que sozinho está bem e melhor.
Tudo aquilo que eu poderia te dar não se compara com aquilo que você me tirou, por amar tanto você eu esqueci de como me amar, como me valorizar, como eu merecia bem mais que você. Lavo meu corpo tentando me livrar desse amor, pois me destrói essa sua mania de expor meu peito ferido como se eu fosse um animal empalhado na sua parede de caça, você que não me da valor não merece que eu lhe retribua com meu amor. Estou te lavando do meu coração, te mandando pra bem longe dessa minha paixão para que eu possa me desintoxicar de você, mas se você voltar o grão de esperança volta junto, então por favor, não volte.

Nada



Eu tinha em uma das mãos um estilete e na outra um vazio sem fim, meu coração estava dilacerado, tudo em que eu acreditava havia desmoronado, as pessoas eram mentirosas, não dava para acreditar em mais ninguém. Os amigos mentem, os pais mentem, os políticos mentem, as emissoras mentem, as pessoas mentem, o mundo mente e o pior... Você mente.
A lamina afiada perfurou minha pele branca como a neve e lisa, tudo começou com um ardor e passou para a pura dor, até que finalmente eu pude ver o líquido vermelho escorrer pela lateral enquanto eu me esforçava para respirar, deixei que lentamente meu corpo escorregasse até o chão e me encolhi sentindo o frio cortante do piso daquele banheiro, abracei minhas pernas e deixei que finalmente as lágrimas rolassem por meus rosto. Era um choro calmo onde apenas as lágrimas saíam, não havia soluço, não havia espasmos, apenas o gosto salgado das lágrimas passando por meus lábios denunciava o choro. O ferimento doía, é claro que doía, mas nenhuma dor se compara aquela de perder tudo que se ama, de se enganar com o que se acredita, de perder a fé em si mesmo, pois a felicidade não depende dos outros ela só depende de si mesmo, mas e quando não há mais você mesmo?
Eu me tornei parte daquilo que eu vim, o nada.