quarta-feira, 26 de agosto de 2020

A música que se apaixonou pelo rádio

Caminhar um caminho bifurcado

A dois passos de cada lado

É a perdição que assolou o coração

Ao flutuar na solidão a dois

 

Numa valsa sincronizada eles enlaçam os dedos

Duas mãos se encontrando

Mas os passos se perdem

A música acaba

E o que resta?

São dois pés a dois passos do fim da dança

 

Uma via expressa 

Dois carros a deriva

Um de janelas fechadas e ar ligado

‘Ninguém precisa ver minha privacidade’

O outro aproveitando a brisa do verão baixou a capota

‘Compartilharei com o mundo a minha felicidade’

Os dois colidem

‘Oh que dó, a felicidade não sobreviveu’

A privacidade apenas saiu

Com um arranhão próximo ao coração

 

Dá pra acreditar? Em histórias de inverno?

No amor que é dado ao relento mal fadado?

Da pra acreditar? Em verdades não ditas?

No amor que não é compartilhado, apenas dado?

 

Eu teria uma lupa para explorar a imensidão do seu coração

Compraria um telescópio para ver quão longe alcança a sua imaginação

Penhoraria todos os meus pertences para comprar o primeiro ticket da sessão

Em cartaz, um filme em ascensão

A história do homem que falou demais

 

De todos os amores do mundo

Existe apenas uma verdade

Abra o coração

Mas deixe a sete chaves

A sua maior ambição

 

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

terça-feira, 28 de novembro de 2017

Contos de uma noite de verão

O rosto dela sorrindo
O cabelo colorido
A brincadeira e a gritaria
É menina escandalosa, daquelas que sempre se entrosa
Divertida, animada, bebe e sempre da risada
A garota juvenil, de forte personalidade, briga e esperneia, não aguenta ver maldade alheia
Se mete na briga, dá apoio a amiga, defende a vizinha e faz movimento pra dar voz às novinha
Parece maluca, está sempre fazendo um auê, você olha pra ela e até imagina que poderia ser uma boa companhia pro rolê
Mas você não imagina
A dor de ser essa menina
Aos 12 anos deixou de ser garotinha
A confiança se perdeu, para dois homens que eram exemplos seus
Sofreu
Se perdeu
O mundo não queria mais ver
Chorou
Se entregou a certeza de que a culpa era só sua
Por que tinha que ter essa beleza?
Fez 15 e não aguentou guardar os 3 anos de crise
Contou
"Mamãe eles dois levaram minha inocência"
A família ficou em choque
Dois homens de tanta confiança
E agora, cade a Esperança?
Se perdeu
Ninguém os prendeu
Todo mundo se dividiu, será mesmo que aconteceu?
Mentirosa
"É verdade"
Um deles admidiu
Graças a Deus
Que barbaridade
Deve ter sido coisa da casualidade
Mas era menina, coisa da vida nem sabia
Se perdeu
Se arrependeu
Ninguém os prendeu
Não sabia como fazia para viver por mais um dia
Mas viveu
É menina que ri e brinca, vai pra festa e não tem pudor, faz o que for
Faz o que quer
Agora é mulher
E viveu
E chorou
E nunca esqueceu
Da garotinha que o mundo perdeu.

quarta-feira, 12 de julho de 2017

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

A garota do gorro vermelho



Eu a vi aquele dia, parecia que estava marcado para acontecer, os meus passos estavam lentos pela rua e eu olhava para o chão como sempre costumava fazer ao andar. Os passos das pessoas era apressado, uma em direção a outra, uma multidão repleta e as pessoas pareciam nem notar que havia alguém ao seu lado, parecia que cada um estava em seu universo e eu só conseguia olhar para seus pés. Eu cometi o terrível erro de olhar para frente, olhar para as pessoas, reparar em como elas estavam absortas em seu próprio mundo e foi então que eu a vi. O gorro vermelho foi o que chamou a minha atenção, enquanto todas as pessoas usavam suas roupas cinzas e pretas, ela usava um casaco amarelo e um gorro vermelho, o sorriso parecia não sair de seus lábios, o copo de café, que eu achava que ela odiava, em sua mão foi até sua boca e ela tirou rapidamente voltando a rir de algo que a pessoa ao seu lado dizia, não olhei para a pessoa, meus olhos estavam concentrados naquele sorriso, no sorriso que eu sempre lembraria e aquilo era uma maldição. Encontrá-la no meio da rua, naquele dia, só podia ser o destino cuspindo na minha cara. Eu passei ao seu lado, ela nem ao menos me viu, seus olhos estavam fixos em outra pessoa, mas eu pude ouvir sua risada nasalada, estranha e escandalosa que fazia qualquer um rir junto.
Apressei mais meu passo, meu apartamento era a duas quadras dali e eu precisava urgentemente chegar até ele, as pessoas pareciam estar todas no meu caminho naquele momento, parecia que a pressa habitual havia se perdido e todos tinham drasticamente passado a passear pelas ruas. Vamos pessoal, sejam bons seres humanos, tenham pressa, corram para seus afazeres.
Avistei a entrada de meu apartamento a frente, quando finalmente consegui chegar até ele a senhora que morava embaixo do meu apartamento saía pela porta e parou ao me avistar.
- Rafael querido, você pode consertar uma coisa para mim mais tarde? Não consigo fazer aquela máquina de lavar funcionar. - ela sorriu doce parar mim, Dona Ana era uma senhora de meia idade simpática, mas vivia pedindo para as pessoas consertarem algo em seu apartamento mesmo que soubesse que a pessoa não tinha a menor habilidade para tal coisa.
- Bom dia Dona Ana, eu adoraria fazer isso para a senhora, mas acho que devemos chamar um técnico. - ela me olhou decepcionada e assustada, tinha medo de qualquer estranho entrando em seu apartamento – não se preocupe, eu vou ligar para alguém de confiança, um amigo que sempre conserta coisas em meu apartamento.
- Obrigada querido. - seu rosto se tranquilizou e ela voltou a sorrir para mim, se despediu com um aceno e me desejou um bom dia, sorri para aquela senhora e corri para dentro do meu prédio, o elevador parecia um daqueles velhos elevadores dos anos 90, tinha uma grade como porta e os botões pareciam estar todos destruídos, não era um dos melhores lugares para se morar, mas tinha certo potencial. Como sempre apertei o último botão e esperei que aquela lata velha subisse, encostei meu corpo na grade de trás e deixei que minha mente lembrasse dela.

Flashback
- Rafael, por que você escolheu o apartamento no último andar? - ela me perguntava entrando no elevador com uma das caixas da minha mudança.
- Ora Kate, é o melhor andar para se viver, as coberturas não são sempre as mais caras? - eu sorri e ela me olhou rindo e negando com a cabeça como se eu fosse um louco só de pensar aquilo.
- Não nesse prédio, aqui você corre o risco de essa lata velha que eles chamam de elevador parar de funcionar e você ter que subir os dez andares pela escada. - eu a olhei entediado e ela não parou de rir da minha cara, era típico da minha melhor amiga – eu já vou logo avisando que se esse elevador quebrar eu não subo pelas escadas nem ferrando.
- E quem disse que eu te convidei para vir aqui? - ela riu mais alto, aquela risada engraçada que eu sempre implicava e então mostrou a caixa em seus braços e eu dei de ombros, era óbvio que Kate viveria em meu apartamento e era óbvio que ela subiria as escadas para isso se precisasse.
Fim do Flashback

Eu entrei em meu apartamento jogando a mochila em qualquer canto, me joguei no meu sofá, não antes de notar a mancha alaranjada que Kate havia deixado há cerca de seis meses.

Flashback
- Kate, Kate, Kate – eu a empurrava de um lado para o outro enquanto ela tentava inutilmente prestar atenção ao filme que passava na televisão. A segunda vez a chacoalhei, o conteúdo de seu copo caiu todo em cima dela e no meu sofá, meu lindo sofá branco, por que eu comprei um sofá branco? Por que ele tinha um capacete Stormtrooper como braço do sofá, não havia como recusar aquele sofá em casa. - Meu sofá! - eu gritei olhando para Kate que ria sem parar, sabendo que a culpa era toda minha, eu olhei para aquela mancha laranja que definitivamente não sairia. - Que merda você estava bebendo?
- Chá de pêssego. - ela falou sem parar de rir, fiz ela me ajudar a limpar aquela sujeira e ela não parava de rir da minha cara de desespero, logicamente a mancha não saiu, para minha infelicidade, passei a tarde inteira falando de como aquilo era culpa de Kate e como ela teria que me dar um sofá novo e ela apenas ria de mim – Ah Rafael, para de chorar por um sofá, isso é história para lembrar.
Fim do Flashback

Kate sempre fazia isso, transformava tudo em lembranças, ela dizia que se um dia um de nós fosse para longe ou por um acaso do destino nos separássemos essas coisas não nos deixariam esquecer da nossa amizade. E infelizmente eu constatei que ela estava totalmente certa. Eu não conseguia olhar para nenhuma parte daquele apartamento sem lembrar dela e sem lembrar que ela havia me abandonado, logicamente a culpa era minha, como a mancha no sofá, mas eu gostava de pensar que a culpa era dela como em tudo que acontecia comigo.

Flashback
Eu andava distraído pelos corredores da faculdade, algumas pessoas passavam me cumprimentando e eu apenas acenava de volta. Senti um braço se entrelaçar ao meu e sorri para a garota ao meu lado.
- Rafael, você não vai acreditar em quem me chamou para sair. - ela começou seu discurso sorrindo e era nesses momentos que eu fingia prestar atenção ao que ela dizia, não queria saber de algum cara que dava em cima da minha amiga, era sempre um babaca que eu, coberto de motivos, não iria gostar e que iria a magoar. Kate não parou de falar disso até chegarmos ao pátio da faculdade quando ela me deu a mão e sentamos em um dos bancos, eu sabia que quando ela segurava a minha mão era por que ela diria algo que me faria pensar para sempre, algo que nunca sairia da minha cabeça, ela tinha esse incrível dom e então eu voltei a prestar atenção ao que ela dizia. - Sabe, estive pensando, você deveria montar uma banda com os meninos da faculdade.
- Kate nós já falamos disso... - eu suspirei angustiado.
- Eu sei, mas olha só – ela puxou um bloco de anotações da bolsa e começou a me mostrar nomes de alguns caras da faculdade, os instrumentos que tocavam e a avaliação dela sobre eles. Eu esperei ela terminar de listar todos e então ela disse me dando a folha com os nomes – Olha Rafael, sei que você tem medo, mas se você não correr atrás nunca vai realizar.
Ela sorriu, beijou minha bochecha e saiu, era incrível a sua capacidade de me fazer pensar em como eu era um imbecil e ao mesmo tempo em como eu deveria fazer algo a respeito da minha vida.
Fim do Flashback

Ouvi um miado baixo vindo do lado do sofá e peguei Parzival o colocando em minha barriga, aquele era o gatinho que Kate havia me dado assim que me mudei para o apartamento, ela gostava dele mais do que eu e ele dela, mas na falta dela ele não tinha a quem recorrer para receber seus carinhos diários então servia eu mesmo. Olhei para o relógio e pude constatar que estava atrasado para a faculdade, eu não ia de qualquer forma. Enxotei o gato do meu colo e fui até a geladeira, claro que não tinha nenhuma comida decente naquele lugar, mas não faltava cerveja e todo o espaço da geladeira estava preenchido com elas, peguei uma e voltei ao sofá encarando meu violão ao lado da televisão.

Flashback
- Rafael meu amigo! - Kate chegou me abraçando de lado, eu estava sentado no bar e ela se sentou no banco ao meu lado, rindo de alguma coisa que eu não sabia. Estava visivelmente bêbada, eu não podia falar muito pois estava quase no mesmo estado. - Você me abandonou.
Fazia algumas semanas que não nos víamos, alguma briga nossa idiota por ela estar saindo com Josh ou Jon ou Johny, não faço questão de saber o nome do imbecil.
- Não te abandonei, Kate. - ela fez bico e pegou em minha mão fazendo com que eu olhasse para seu rosto. Ela sorriu ao ver que eu ainda prestava atenção ao que ela dizia quando segurava minha mão.
- Ei, lembra quando a gente bebeu tanto no seu aniversário que jogamos ovos no carro de Verônica? - ela ria ao mencionar aquilo e eu não pude evitar rir junto. - Mas bem que ela merecia aquilo, ninguém faz meu amigo de otário.
- Kate você está bêbada. - anunciei o que ela provavelmente já sabia e nem ao menos ligava ela continuou me olhando esperando eu dizer algo sobre Verônica – mas aquela vaca realmente mereceu.
- Soube que ela está grávida. - ela disse pensativa – você ainda gosta dela Rafael?
- Claro que não. Isso faz dois anos Kate. - ela me olhou triste, as vezes eu realmente não a entendia.
- Não tem prazo de validade para o amor. - ela falou arrastando a palavra amor por algum tempo e eu ri da sua tentativa de chamar o barman depois disso. - Moço, nos dê duas doses de tequila.
- Tequila? - eu perguntei e ela deu de ombros insistindo com o barman que finalmente a atendeu e trouxe nossas doses. Bebemos em um gole só e Kate fez uma cara feia ao colocar o limão na boca.
- A gente terminou. - ela anunciou assim que tirou o limão da boca e eu a olhei quase que pedindo desculpa e ela olhou para seu copo ressentida. - Não era amor. Ele disse que eu não podia amá-lo por que eu já tinha outro amor na minha vida. - ela olhou para mim sugestiva e eu me senti culpado, não era a primeira vez que um de seus namorados me usava como desculpa para terminar com ela.
- Ele é um idiota – eu falei e ela riu confirmando. A noite se passou com Kate e eu rindo sobre nossos antigos amores, era como se nunca tivéssemos brigado. Mais algumas doses de tequila e Kate já não conseguia formar uma frase sem rir no meio dela.
- Rafael, todos os meus ex são imbecis – eu concordei com um aceno de cabeça e ela riu – você é o único cara que eu posso confiar.
Nós sorrimos um para o outro, éramos os melhores amigos naquele mundo, ela era a única que eu podia confiar. Mas eu sempre fui bom em estragar tudo e Kate era quem consertava, mas daquela vez eu fui o mais estúpido que eu podia ser. Chegamos ao meu apartamento em uma velocidade que eu nem imaginei que pudéssemos, Kate brincou com Parzival assim que entrou e eu peguei uma cerveja para nós. Aquele vestido preto da garota estava no chão em questão de segundos, aquela era a coisa mais estúpida que fizemos em toda nossa vida.
Fim do Flashback

Eu finalmente peguei o violão, dedilhando aquelas cordas eu pude ver o quanto eu sentia falta de tocar. Desde que Kate fora embora, no meio da madrugada daquele dia, sem se despedir eu não havia tocado no meu violão. Eu não a procurei, ela deixou muitas mensagens na minha secretária eletrônica e eu não retornava, até que três semanas depois ela parou de tentar. Fui até a secretária eletrônica e deixei o violão de lado. Apertei o botão e já devia ser a milésima vez que eu ouvia aquela mensagem, fazia três meses que eu a ouvia sem parar, só para me matar um pouco por dentro.

Você tem uma mensagem! - a voz escrota da secretária falou e eu esperei pela voz dela - Oi... - houve alguns segundos de silêncio – é a Kate, não que você não saiba, - ela riu de si mesma e então sua risada parou – eu já entendi que você não quer me atender e nem me retornar - ela suspirou – não vou mais te ligar, Rafael. Essa é minha última ligação. - houve uma pausa e ela parecia não querer continuar – espero que você esteja bem e que se levante desse sofá algum dia. Todo mundo erra. - ela fungou e eu sabia, ela estava chorando – Não sei por que eu ainda tento, mas acho que é porque nunca terá nada como eu e você. - ela fungou de novo e meu peito estava apertado – Eu estou bem – ela riu de novo e eu queria chorar – Olha – mais uma pausa – só queria te dizer que eu... - um bip soou e a voz maldita da secretária falou: Fim da mensagem!”

sábado, 27 de dezembro de 2014

Stelazine part 2

Parece que ninguém percebeu que faz tempo que eles acabaram, ninguém parece notar que eu não tenho mais controle, mas eu guardei quatro deles para emergências. Talvez as emergências tenham chegado e eu não os tenha usado. Estou apenas ignorando sua existência. Sou muito boa em ignorar o que me faz mal, você deve se lembrar disso.
Só me resta sobreviver um dia após o outro, novamente sozinha, mas sem estar realmente só.

Hurt - Johnny Cash




I  hurt myself todayTo see if I still feelI focus on the painThe only thing that's real
The needle tears a holeThe old familiar stingTry to kill it all awayBut I remember everything
What have I become, my sweetest friend?Everyone I know goes awayIn the end
And you could have it allMy empire of dirtI will let you downI will make you hurt
I wear this crown of thornsUpon my liar's chairFull of broken thoughtsI cannot repair
Beneath the stains of timeThe feelings disappearYou are someone elseI am still right here
What have I become, my sweetest friend?Everyone I know goes awayIn the end
And you could have it allMy empire of dirtI will let you downI will make you hurt
If I could start againA million miles awayI would keep myself

I would find a way